RETORNANDO AO LAR
Estava voltando de Brasília (DF), pois havia sido transferido para Campo Maior(PI). Optei por vir de ônibus, pois queria conhecer o percurso e as cidades. Às 5h da manhã, paramos para banhar e tomar café em Barreiras(BA). Fiz alguns amigos na viagem e viemos tomando umas geladas quando o ônibus parava nas rodoviárias. Paramos pra o almoço, mas ficamos bebendo. Tinha um casal sentado num cantinho do restaurante com uma criança chorando sem parar. Eles olhavam para mim, como quem queria falar alguma coisa. Fui até eles e perguntei o que estava acontecendo. Ele foi caçar “passarim” e andando no meio do mato, um espinho entrou no seu olho. Isso aconteceu por volta das 5h da manhã e eles estavam indo para Floriano(PI) para tentar falar com uma médica indicada pelo prefeito que, irresponsavelmente, não tomou nenhuma providência para mandá-los de ambulância. Mandei servir almoço para eles. Sentaram duas poltronas depois da minha. O sofrimento do menino não saiu mais da minha cabeça. Não contendo-me, fui até eles e fiz a seguinte proposta: “Vocês querem ir para Teresina comigo? Lá, ficarão na casa da minha mãe, e lá, tenho como levá-lo ao hospital pois tenho o carro da minha mãe à minha disposição”. Ficaram de pensar na proposta pois não me conheciam. Antes de Floriano, o pai veio a mim e disse: “Iremos com o senhor!”. Chegando em Teresina (PI), o Ronym, que namorava com minha irmã, já estava me esperando na rodoviária. Contei toda história para ele e ele já foi dizendo: “Vou deixar vocês em casa e vou levá-lo ao hospital, pois o tio Adécio está de plantão no hospital hoje!”. Pronto, estava tudo encaminhado. Chegando à casa da mamãe, contei toda história para ela e ela disse-me: “Você fez muito bem, filho!”. Ele foi operado logo à noite. A Doura, mãe dele, ficou com a mamãe e queria fazer tudo: varrer casa, lavar louca, lavar roupa, limpar os móveis… chorando, dizia para mamãe: “Nós, dona Lurdinha, não vamos poder pagar nunca o que vocês estão fazendo pela gente!”. “É assim mesmo, Doura, temos que nos ajudar uns aos outros!” “O seu Neto, dona Lurdinha, foi um anjo que Deus botou em nosso caminho.” Ele foi operado mais duas vezes. O pai voltou para cuidar dos outros filhos pequenos que tinham ficado.