TEXTOS DA SEMANA

SAUDADE III

as 11:40

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Aos sábados sempre fazia minha peregrinação a pé do bairro Cristo Rei ao Centro de Teresina. E nos dias de inverno eram os melhores. Madrugava para não ter que me demorar conversando com alguém a não ser comigo mesmo. Viajava em meus pensamentos. Hoje vou seguir pela Av. São Raimundo sem passar pelo Mercado da Piçarra. Vou passar em frente à Maternidade D. Evangelina Rosa, a antiga Casa Mater até chegar à Av. Miguel Rosa. Vou pegar para direita e passar em frente à antiga Fábrica de Óleo Dureino, ao Corpo de Bombeiros até o Edifício Chagas Rodrigues e seguir pela Av. Frei Serafim, passar em frente ao HGV, ao “Elefantinho” e ir até a Igreja São Benedito, onde faço a minha primeira parada para fazer minhas preces e minhas orações, e sentir, sentado à lapela da porta, o vento que vem do verde da grama e das árvores da Praça da Liberdade. Desço e demoro-me na praça João Luiz Ferreira, onde recordo meus dias de adolescente, andando de bicicleta, com os meus amigos, que já não sei por onde andam. Hoje, o edifício do antigo Inss está abandonado mas na década de 70 as filas que se formavam para marcar consultas, eram enormes, e as pessoas chegavam de madrugada ou dormiam pela calçada ou nos bancos da praça. Lembro-me que havia umas pessoas que eram pagas para marcar as consultas ou somente para pegar o número ou senha. A fila era enorme, a perder-se de vista. De lá, subia para pegar a rua Areolino de Abreu ou a Lisandro Nogueira, assim eu saía ao lado do Luxor Hotel e passava em frente ao antigo Supermercado São Gonçalo, onde corri muito por entre suas gôndolas, na minha juventude. A turma que trabalhava na Jotal sempre ia tomar whisky, ao final do expediente, no restaurante do Chico (in memorian), meu irmão, aí, às vezes pediam para eu ir comprar cigarro para eles. A mamãe tinha a lanchonete Ponto Frio e em frente ficava o restaurante, na rua Firmino Pires. Eu passava o dia inteiro brincando com o Antônio e com o Zé Francisco (in memorian), que eram filhos do Seu Antônio e do Seu Zé Raimundo Bona, respectivamente, que eram donos de lojas de venda de pássaros, de gaiolas e de ração para os mesmos, que ficavam bem ao lado da feirinha dos pássaros. Ali, mais um turbilhão de reminiscências… Na feirinha sempre tinha alguém, numa bicicleta com um isopor enorme à garupa vendendo refresco, abacatada, pastel e coxinha. Sempre lanchava ali em meio à algazarra dos vendedores, dos compradores e dos apaixonados por pássaros. No meio do fuá ficava um senhor, debaixo de um chapéu de massa, numa banquinha surrada, fazendo jogos-do-bicho em baixo dos oitis centenários. E, assim, por entre a fumaça dos cigarros estava eu, o Antônio e o Bona.