Diretores da Caixa pedem cargos por se oporem a investimento em banco de citado em delação

Caso envolve operação de compra de um lote de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master

Três funcionários do setor de investimentos da Caixa Econômica Federal, a Caixa Asset, perderam os cargos por se colocarem contra uma operação de R$ 500 milhões proposta pelo presidente da instituição, Pablo Sarmento. Na operação seriam compradas letras financeiras (um título de dívida) do Banco Master, que pertence a Mauricio Quadrado.

Os funcionários são Leonardo Silva, Mariangela Fraga e Daniel Gracio. Eles ocupavam cargos de gerentes nacionais da Caixa Asset, se colocaram contra o negócio na última sexta-feira (5). Já na segunda (8) os três foram destituídos de suas funções.

Para opinarem contra a operação, os três alegaram que havia risco à reputação da Caixa. Mauricio Quadrado, do Banco Master, foi citado em delação premiada do ex-superintendente nacional da Caixa, Roberto Madoglio, por ter supostamente pago propina para viabilizar uma operação do FI-FGTS, fundo de investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço gerido pela Caixa.

À época, após a delação, Madoglio devolveu R$ 39,2 milhões aos cofres públicos. Os três funcionários criticaram, em relatório, a área de Gestão de Risco da Caixa Asset por deixar de fora essa informação em seu relatório.

Aspectos

A tentativa de negociação com o Banco Master chamou atenção para aspectos curiosos da atual gestão da Caixa.

Pablo Sarmento é o presidente da Caixa Asset. Ele foi aprovado para o cargo pelo Conselho de Administração em dezembro de 2023. Seu nome foi escolhido após o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), vencer a queda de braço com o governo para a escolha do presidente da Caixa.

Carlos Antônio Vieira Fernandes foi nomeado para a presidência da Caixa em novembro do ano passado após indicação de Lira. Com a troca, vieram substituições em outros postos dentro do banco público, entre elas a de presidente da Caixa Asset.

Pablo Sarmiento era amigo e foi indicado por Pedro Guimarães (ex-presidente do banco na gestão Bolsonaro, que foi acusado de assédio sexual e moral por funcionárias) para ser presidente da Caixa Capitalização, subsidiária da Caixa que fica no Rio. No final de 2022, Pablo foi retirado do cargo pelo Conselho de Administração da empresa — segundo o site Notibras, ele também foi alvo de denúncias de assédio sexual que não fora investigadas, mas foram o bastante para apeá-lo do cargo.

Ele estava trabalhando com o prefeito Eduardo Paes quando foi chamado por Carlos Viera para ser presidente da Asset da Caixa. Sarmiento também é tido como home de confiança do PL do Rio de Janeiro.

Outra informação importante é que um dos conselheiros do Conselho de Administração da Asset da Caixa é o atual VP de Atacado, Tarso Duarte de Tassis. Antes de ser nomeado na Caixa ele foi assessor da presidência do Banco Master, justamente a instituição que tenta a a operação com a Caixa, considerada de alto risco pelos funcionários afastados.