COISAS DE POESIA, POLÍTICA E BOTECO

A LATADA I

A latada é simplesmente uma nesga coberta de palha, apesar do terreno ser imenso e cheio de árvores. Aqueles que não cabem dentro dela ficam à sua sombra ou à sombra das árvores. Por lá também ficam os cachorros da vizinhança. Quando o dono do boteco está jogando carteado, algum dos clientes cativo faz às vezes atendendo aos demais. As mesas e os bancos, na grande maioria, são feitos de sobra de madeira da construção civil. Para aquele que vai sentar solitária e solo, com seu trago de cachaça ou sua meiota, tem uma mesinha apropriada. Assim, como para quem vai sentar em bando, tem uma mesa maior e apropriada, mas nem as mesas nem as cadeiras são padronizadas, pois são pedaços de madeira que sobram. A única mesa e as únicas cadeiras padronizadas são as do carteado. Durante a semana, os horários de pico são cedinho da manhã, ao meio-dia e cedinho da tarde. A maioria trabalha, por isso, passam cedinho e em pé no balcão tomam um trago e vão. Ao meio-dia, antes do almoço, passam novamente para tomar um ou dois tragos e vão, e no cedinho da tarde, quando retornam da labuta, bebem com calma e à vontade. Ainda têm os que não dão expediente e que vivem de bico, por isso, chegam cedo e vão ficando até que aparece algum chamado para descolar uma grana. Além do bombeiro, eletricista, pedreiro, tem o catador de material reciclável e o catador de lixo que também faz capina. É um ambiente de fala alta, de muitas falas ao mesmo tempo, de gargalhadas escandalosas, de palitos de fósforo ao chão, de muita fumaça e de muita bagana de cigarro em meio às tampas de garrafa… sobre as mesas ficam pedaços de caju, pedaços de tamarindo, pedaços de manga, sal na colher ou num pedaço de papel, bandas de limão, bandas de laranja, caixa de fósforo, às vezes chapéu de palha ou boné surrado, chaves de fenda, alicate, serrote, facão, cofo… envolta do terreno ficam as bicicletas, as motos e algum carro de algum modelo antigo.