COISAS DE POESIA, POLÍTICA E BOTECO

O VULTO HUMANO

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Sinto o corpo se indo, assim como a jangada que desce o rio à busca do horizonte da imensidão. Vai escoando pelas rugas, pelas mãos trêmulas, pelos cabelos brancos, pela escuridão dos olhos, pelos sinais que afloram sobre a pele fina e pelo desequilíbrio que toma conta das pernas. Sinto a alma se cristalizando na eternidade do diamante, assim como a água decantada pelos dias da carne. As orelhas grandes, secas e longas, já sentem a escassez da água nos sulcos. O couro dos braços são como flâmulas ao vento em revoada entre o braço e a manga da camisa.

A pele fina salienta o contorno, as pontas e o relevo dos ossos pontiagudos. O momento pede para se fazer paz com os dias, pois são eles o ralo que carrega o sumo do que ontem foi o homem. Agora, o ritmo é outro e a canção está somente na lembrança, pois os ouvidos estão moucos. É tempo de se botar na prática a calma que a escola da vida nos ensinou. Para se entrar e sair do carro, tem que se recorrer à paciência. Para se levantar da cama, tem que ser aos poucos, pois qualquer movimento abrupto empena a alma. Estes dias do fim são longos e demorados.

No começo, a vida corre atrás da gente, mas no fim corremos nós atrás dela. Os pedidos do fim são de saúde e paz, pois é justamente o que nos distancia dos dias de orgia da juventude. A comida é regrada, os movimentos são limitados e as cores são sempre em tom cinza ou cinzento. Quanto menos alimento pro corpo, mais dias de vida pra alma. As orações podem ser servidas em bandejas de abundância, pois não nos causam diabetes e nem pressão alta. Quanto mais oração, mais libertação.