RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
A explosão de novos casos de Covid-19 — provocados pela variante Ômicron do coronavírus – e de gripe – pelo H3N2 cepa Darwin — em boa parte do Brasil vem acompanhada do aumento da circulação de outros vírus respiratórios.
O professor e médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Botucatu, explica que depois do SARS-CoV-2 e do influenza, os agentes etiológicos que mais têm aparecido nos painéis virais de indivíduos com síndrome gripal são o adenovírus e o rinovírus (que possui mais de cem subtipos), causadores de resfriado comum.
“Já fazia um tempo que esses vírus não circulavam e agora estão muito mais transmissíveis em um ambiente de pessoas que não tiveram contato com eles, que não têm imunidade contra o vírus da influenza ou de resfriado. Quando você fica muito tempo sem contato — isso acaba acontecendo — fica mais suscetível. E a variante Ômicron tem a questão que a gente sabe de maior transmissibilidade.”
O médico Estevão Urbano, da Sociedade Mineira de Infectologia, acrescenta que “é possível que durante o período de isolamento as pessoas não se expuseram aos vírus de resfriado”.
“A imunidade natural é pequena. Não tem um número certo de tempo. [Dura] meses, no máximo, um ano.”
Todavia, o especialista ressalta que com a volta à vida normal, a tendência é que a imunidade contra os vírus mais comuns também retorne, assim como a frequência dos casos, “mas não na quantidade que estamos vendo agora”.
O apagão de dados do Ministério da Saúde sobre casos de Covid-19, que já dura quase um mês, impossibilita saber a dimensão do cenário atual. O Brasil tampouco tem dados epidemiológicos recentes de síndrome gripal causada por outros vírus.
Vírus diferentes, sintomas iguais
O momento atual de pico de síndrome gripal vivido em São Paulo, por exemplo, é atípico porque envolve esses vários vírus, cujos sintomas podem ser exatamente os mesmos.
“É impossível você diferenciar um paciente com influenza de um paciente com Covid por variante Ômicron ou com resfriado comum. Isso no caso dos primeiros dias de sintomas. Mas se você pega um paciente com Covid que não foi vacinado, é lógico que ele vai ter uma chance maior de evolução para síndrome respiratória aguda grave, o que não acontece com pacientes com resfriado comum — por adenovírus ou rinovírus — e é menos comum acontecer em pacientes com influenza”, sublinha Barbosa.
A variante Ômicron do coronavírus tem se caracterizado por apresentar casos leves de Covid-19 entre pessoas com a imunização completa e dose de reforço.
Por essa razão, os sintomas podem facilmente ser confundidos com um resfriado, em que o paciente apresenta garganta irritada e tosse seca, mas sem um comprometimento pulmonar na maioria dos casos.
Outros sinais incluem febre, cansaço, dores no corpo e de cabeça, dor e irritação nos olhos, coriza e nariz entupido.
Sendo impossível identificar qual é o vírus causador da síndrome gripal, o ideal é que os serviços de saúde façam teste de Covid-19, e também de influenza. Na rede privada existe a possibilidade da realização do painel viral, que identifica mais de 20 agentes causadores desse tipo de quadro.
“Os casos geralmente são leves, autolimitados, benignos, mas deveriam ser avaliados para que se pudesse fazer um diagnóstico diferencial”, alerta o professor da Unesp.
Em pacientes com risco de evoluir para quadros graves de gripe, por exemplo, um exame que detecte a presença do vírus influenza pode ser utilizado pelo médico para iniciar o tratamento com o antiviral oseltamivir.
Se o resultado for positivo para Covid, pode ser necessário o monitoramento do nível de oxigênio no sangue, já que o vírus pode avançar para os pulmões, especialmente em pacientes mais debilitados.
Na última semana, começaram a ser relatados casos de pacientes com infecção simultânea por dois vírus respiratórios, principalmente coronavírus e influenza, o que se chamou de flurona.
Barbosa ressalta que isso não representa necessariamente um quadro mais grave. “Vai acontecer uma síndrome gripal mais ou menos comum.”
Prevenção
Da mesma forma que se previne a transmissão da Covid-19, evita-se também a infecção pelos outros vírus respiratórios que estão circulando neste momento.
O uso de máscara se faz fundamental neste contexto, assim como o distanciamento entre as pessoas. A higienização das mãos e das superfícies também minimiza o risco de ser infectado.
FONTE: R7