Desafios no diagnóstico e cuidado da demência no Brasil
Entenda barreiras e avanços no tratamento da demência.
A demência é uma das principais causas de incapacidade no mundo, com previsões de crescimento contínuo. Até 2050, as doenças mentais estarão entre os três principais grupos de enfermidades na América Latina. No Brasil, a situação é crítica: oito em cada dez pessoas com algum tipo de demência desconhecem seu diagnóstico.
Cleusa Ferri, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro do Comitê de Políticas Públicas sobre Demência do Ministério da Saúde, destacou durante o Summit Saúde e Bem-Estar, promovido pelo Estadão, que o diagnóstico é crucial para o tratamento, mas o acesso continua desigual no país.
A falta de capacitação médica é um dos principais fatores para o subdiagnóstico da demência. Muitas vezes, pacientes são tratados apenas por condições como diabetes ou hipertensão, sem que questões cognitivas sejam investigadas. Cleusa enfatiza a necessidade de treinamento adequado para profissionais de saúde para reconhecer sinais além das condições clínicas aparentes.
Claudia Suemoto, professora de geriatria na Universidade de São Paulo (USP), relatou a escassez de formação sobre demência nas faculdades de medicina, evidenciando a importância de abordar o tema na graduação e em cursos de formação continuada, especialmente para médicos de família, cardiologistas e ginecologistas.
O desenvolvimento científico no campo da demência ainda enfrenta complexidades. Eduardo Zimmer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mencionou que, embora existam exames aprovados para auxiliar no diagnóstico, como marcadores biológicos, eles não estão amplamente disponíveis no SUS devido ao alto custo. Contudo, há uma tendência global de desenvolvimento de exames de sangue mais acessíveis, que podem facilitar o diagnóstico no futuro.
Outro desafio significativo é o estigma em torno da demência. Elaine Mateus, presidente da Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz), explica que mudanças na memória ou comportamento frequentemente são vistas como normais para a idade, o que pode levar ao preconceito e negligência. Elaine também destacou tratamentos não medicamentosos eficazes, que são pouco valorizados mas têm impacto significativo.
No ano passado, o Brasil sancionou a Política Nacional de Cuidado Integral às Pessoas com Doença de Alzheimer e Outras Demências. Cleusa Ferri argumenta que é necessário tirar a política do papel, integrando ações de prevenção, diagnóstico e atendimento.
Especialistas afirmam que muitas demências poderiam ser evitadas eliminando fatores de risco como tabagismo, sedentarismo e baixa escolaridade. Claudia Suemoto destacou que investir em educação é crucial para prevenir a demência. A combinação de diagnóstico precoce, tratamentos integrados e políticas públicas pode transformar o cenário da doença no país, proporcionando uma vida digna para os pacientes.
Fonte: Divulgação